Ser criança nunca foi fácil. Já na Grécia antiga, a violência e agressão às crianças eram muito comuns. Recém-nascidos que apresentassem uma compleição física mais débil ou malformações eram, tranquilamente, eliminados. Na Idade Média, as crianças eram adultos em miniaturas, expostas a todo tipo de erotização e vivências deste mundo de gente grande.
Um dos frutos mais saborosos do movimento renascentista foi a invenção da infância. Para proteger a criança, foi necessário delimitar a fase infantil diferenciando-a do adulto. Dentre as grandes ideias advindas deste movimento, esta, sem dúvidas, foi a mais humanizada. Perceber que a criança é um ser inacabado, que ainda não está pronto, mas sim em processo de aprendizagem e desenvolvimento abriu um novo e importante universo para toda a sociedade.
Foram criados Jardins de Infância, vacinas e promoção da saúde das crianças, roupas infantis mais confortáveis e adequadas, alimentos específicos e apropriados para crianças além de brinquedos e jogos educativos. Foi um movimento urgente e imprescindível para assegurar uma infância feliz.
Séculos se passaram e essa infância feliz ainda está longe de estar garantida. Em contraponto, na contemporaneidade, a criança é tratada como um ser novo, sem bagagem e sem capacidade de compreender e interagir com o mundo. Não há espaço para ela, a infância está num limbo à parte da sociedade. As histórias infantis são com poucas palavras (que se repetem) sem nenhuma coerência. Os desenhos animados infantis são ridículos e sem nexo, as cantigas são pobres e os brinquedos inúteis, como se elas não fossem capazes de absorver mais. O pêndulo virou completamente para o outro lado. Precisamos refletir sobre isso, para atingir o equilíbrio e alcançarmos o caminho do meio.
As crianças são espíritos reencarnados, criativos e capazes. A função social dos pais e educadores é promover para esta criança um ambiente favorável que incentive sua evolução e ajude-a a superar suas dificuldades. Ela deve ser exposta a tudo que é belo e sublime, o quanto antes. Isso inclui apresentar música de qualidade, desde a gestação. É valorizar a criança conversando com clareza, usando amplo vocabulário, falando a verdade e olhando em seus olhos. É contar histórias significativas, com conteúdo moral, incluindo as paródias e vivências do mestre Jesus. Nunca é cedo para falar de amor!
Nossa obrigação é sim de contextualizar os conteúdos, para serem oferecidos de maneira lúdica para que a criança desperte o interesse, mas nunca, de maneira alguma, é esvaziar conteúdos com estórias vagas e inúteis, alegando a incapacidade da criança em aprender.
Também não é ocupá-las com uma agenda cheia de compromissos e aulas extras. A infância deve ser livre das exigências e responsabilidades do mundo adulto. Rousseau já salientou que no momento em que tivermos uma geração de crianças-doutores viveremos com adultos infantilizados. Sendo assim, é nossa responsabilidade, respeitar e resgatar uma infância saudável e protegida, se observarmos com atenção, temos muito mais a aprender com crianças do que o contrário. Que a educação seja cada vem mais consciente e menos aleatória, para que o futuro feliz de nossas crianças se faça, hoje!
Jamile Tupinambá
Parabéns, Jamile! Muito bom!
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Um ótimo texto, realmente! Entretanto, deixo aqui minhas considerações: (1) No mundo helênico, praticamente na Cidade-Estado de Esparta, a criança que nascia com alguma deformidade era assassinada a sangue-frio, pois não seria útil do ponto de vista daquela sociedade… e os antropólogos dizem – “justifica-se, pois era a cultura deles…!”. Para quem não sabe, algumas tribos indígenas no Brasil ainda tem esta “cultura”…! (2) A Idade Média trouxe coisas boas também, mas não vou elencá-las aqui por falta de espaço e tempo, entretanto concordo com a autora do texto sobre a erotização das crianças e abusos, o que surpreendentemente ainda acontece em algumas áreas do globo terrestre no presente momento, incluindo aqui o Brasil… e sendo assim, acredito que ainda estagiamos na Idade Média pelas terras tupininquins… nossa “cultura” baseada em músicas de apelo erótico (e programas de TV idem) contribuem em muito para essa degradação moral que vivenciamos atualmente…! (3) Os bons livros infantis estão muito mais acessíveis, porém os pais são incapazes de incentivarem a leitura dos mesmos, delegando isso a terceiros, pois também não têm o hábito da boa leitura… as novelas, o celular e a correria do dia-a-dia “rouba-lhes” o precioso tempo, daí chegando o final de semana, o típico brasileiro diz com um sorriso mailicioso nos lábios – “sextou”… e segue o féretro…! (4) Enquanto prevalecer o marxismo/gramscismo cultural neste país, seremos incapazes de melhorar nossas notas no PISA e evoluirmos como “Coração do Mundo e Pátria do Evangelho”…! Espero sinceramente que este cenário cruel mude nos próximos anos, para melhor, claro…! Assim seja!
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Excelente reflexão. Muito obrigada.
Que as próximas gerações venham para melhorar o mundo.
Um abraço,
Patrícia
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