Uma breve história da ABPE! Hoje, 17 anos!

ABPE 17

No dia 28 de agosto de 2004, na Universidade Santa Cecília, em Santos, 40 pessoas de diversas áreas profissionais (Educação, Medicina, Direito, Arquitetura, Odontologia, Engenharia, Turismo, Artes plásticas…) entre homens e mulheres, estudantes e senhoras (donas de casa, como se dizia numa época pré-feminismo mais atualizado), assinaram a Ata de Fundação da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita. Essas 40 pessoas eram de Santos, São Paulo, Bragança Paulista e Jundiaí.

Meses antes, no ano mesmo de 2004, a Editora Comenius, já existente desde 1998, juntamente com um grupo de Santos, que havia frequentado um curso de extensão na Unisanta, coordenado por mim, havia promovido I Congresso de Pedagogia Espírita com a presença de mil pessoas, que lotaram o auditório e inúmeras salas de um prédio da Unisanta.

Embalados no sucesso desse congresso, a ABPE foi fundada com o propósito de estudar, promover, divulgar, assessorar a prática da Pedagogia Espírita no Brasil. E, no ano seguinte, numa parceria com a Universidade Santa Cecília, nasceu o Curso de Pós, que está atualmente na 17ª turma.

Hoje, estamos completando 17 anos de existência da ABPE.

Que jornada! Dos 40 fundadores, 5 passaram para o outro plano, 25 se afastaram, por seguirem outros caminhos de vida, às vezes por constatarem que nossa proposta era progressista demais para suas visões de espiritismo… Apenas 10 continuam de alguma forma ligados à ABPE, em alguma atividade, pela afiliação ou em alguma colaboração esporádica.

Mas no tempo, outras pessoas vieram, algumas entraram, participaram, trouxeram contribuições e saíram, outras ficaram e ainda estão conosco. As pessoas flutuam, mas há um pequeno núcleo fiel, e a ideia continua firme e a ação não esmorece.

Conflitos, sempre há. Dissonâncias, deserções… fazem parte.

Mas também temos a satisfação de uma construção sólida no tempo. Congressos, cursos, livros, rádio, blogs, redes sociais, manifestos e a criação, em 2014, da Universidade Livre Pampédia. Tudo com grande luta, com muito sacrifício financeiro, com muitas adesões simpáticas e aliviadas, por estarmos num caminho de espiritismo progressista, de educação emancipadora, de liberdade de debate e com muitas oposições e perseguições, pelos mesmos motivos.  

A nossa proposta sempre foi de uma releitura pedagógica, contemporânea de Kardec e uma visão livre e crítica em relação ao movimento espírita hegemônico. Mas alguns fundadores e alguns seguidores nesses anos de trabalho não compreendiam claramente isso. Talvez porque trabalhamos com a educação, muita gente se aproximou pensando que fôssemos trazer subsídios para a tradicional evangelização. Conforme fomos clareando o caminho, mostrando-nos inclusive críticos à evangelização-catequese, que está longe de ser a proposta da pedagogia espírita; conforme fomos nos posicionando contrários ao igrejismo, às posições conservadoras e dogmáticas do movimento espírita hegemônico, fomos perdendo alguns membros fundadores e outros que nos seguiam como associados.

Com o recente avanço da extrema direita no Brasil e a adesão maciça de espíritas ao bolsonarismo – política de ódio, discriminação, violência e morte – fomos nos posicionando com mais firmeza, sem jamais representarmos um partido político ou uma única vertente de pensamento social, mas coerentemente com o espiritismo de Kardec, mostramo-nos em oposição a toda forma de opressão, tortura, ditadura, injustiça e empobrecimento da população brasileira. Quando o nazi-fascismo está em alta, não há possibilidade ética de neutralidade e silêncio.

Nesse momento, então, entramos em diálogo e luta conjunta com outras instituições, grupos e pessoas, mais recentemente surgidos no cenário do que a ABPE, vindos a público nesse mesmo debate-combate.

Outra linha de ação nossa, que se firmou ainda mais nos últimos anos, foi a busca de diálogo inter-religioso, procurando aliança e debate com pessoas de outras tradições espirituais e com pessoas de outras posturas filosóficas – que não a espírita kardecista. Nossa ideia é sempre marcar na sociedade um território de transparência de um espiritismo progressista e de uma educação livre e plural, que possa conversar com outras pessoas ou correntes que também estejam trabalhando pela transformação do mundo, aliada a alguma forma de espiritualidade.

Orgulha-nos dizer que a nossa atuação até aqui tem um lastro de muitos livros, artigos, congressos e cursos, com a ajuda de uma rede extensa de lideranças e intelectuais espíritas e não espíritas, de professores-doutores das melhores universidades brasileiras, de mestres e profissionais, de alunos e ex-alunos, que colaboram conosco e participam de alguma forma da construção de um conhecimento que considera a dimensão da espiritualidade, sem perder a criticidade do pensamento.

Mais recentemente, inauguramos o canal de Youtube da ABPE, onde estou fazendo semanalmente a live O Espírito da Coisa – Kardec para o século XXI, procurando contextualizar a proposta espírita para nossos tempos. Com criticidade, sem perda da necessária espiritualidade, que nos coloque num patamar de serenidade, para enfrentarmos a intensa luta desse momento histórico, que atravessamos.

Se você, que estiver nos lendo, quiser contribuir para nossos projetos, temos um financiamento coletivo no Catarse, uma assinatura mensal, que nos ajuda a manter nossos compromissos.

E daqui, para os próximos 17 anos, que Kardec continue nos inspirando!

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2 respostas para Uma breve história da ABPE! Hoje, 17 anos!

  1. Luziete Maria da Silva Dal Poggetto disse:

    Parabéns, Dora e colaboradores da ABPE! A ABPE se torna uma máscara de oxigenação nesse tempo de asfixia política, educacional e científica.

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  2. Vilma Peramezza disse:

    Parabéns a esse grupo corajoso . De fato , é muito triste ver que os Centros Espíritas estão desaparecendo e os poucos que sobram cada vez mais se tornam “ guetos” “ igrejeiros” . Tenho visto a Dora Incontri no YouTube e me encontro totalmente dentro de sua maneira de
    pensar o Espiritismo verdadeiramente Kardecista .

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