A perseguição aos bons e o caso Glauber Braga

A recente e injusta perseguição ao deputado Glauber Braga, com a ameaça de sua cassação política me leva a propor uma questão crucial, filosófica, política, social… Por que um certo deputado, numa cena dantesca no Congresso Nacional, num golpe contra uma mulher honesta, citou e elogiou o torturador desta mulher, e não foi cassado – como deveria por lei por fazer apologia à tortura – e recebeu uma cusparada indignada de um Jean Wyllys, que teve depois que se exilar? Esse dito deputado, de quem nunca cito nome, tornou-se depois presidente do Brasil, responsável por milhares de mortes durante a pandemia, por sua negação da vacina, envolvido com roubo de joias e tentativa de golpe de Estado e continua livre e solto por aí… enquanto Glauber, um deputado que luta por boas causas populares, de peito aberto, ao lado de sua companheira, a também deputada Sâmia Bomfim, está para ser expulso desse mesmo Congresso?

Por que um Sócrates foi condenado a beber cicuta, Jesus foi crucificado, Gandhi, Martin Luther King e Malcolm X foram baleados e tantos trastes continuaram semeando suas injustiças mundo afora?

Seria esse mundo sempre palco da vitória dos injustos, dos violentos, dos que exercem um poder corrupto e opressor? E a perseguição, o martírio mesmo, seria apenas o prêmio dos que lutam por um mundo melhor?

Não significa isso que possamos dividir a humanidade de forma maniqueísta entre bons e maus. Todos somos humanos e temos nossas luzes e nossas sombras – embora em alguns precisemos procurar com lupa alguma réstia de luz escondida. Mas há sim um lado certo da história, o lado dos que se empenham em transformar a sociedade num lugar melhor de se viver, o lado dos que trabalham por causas justas, fraternas, libertárias… e há os que se colocam como parasitas, dominadores, opressores. Não significa que os que estão do lado certo sejam isentos de enganos e sombras. Não há pureza neste mundo, no sentido absoluto do termo. E, às vezes, sacrificamos e cancelamos os melhores, por suas fraquezas humanas, e mantemos os piores, com todos os seus crimes, na liderança hipocritamente moralista.

Há um trecho do Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, que trata justamente deste tema, na questão 932:

 “Por que, neste mundo, os maus exercem geralmente maior influência sobre os bons?

– Pela fraqueza dos bons. Os maus são intrigantes e audaciosos; os bons são tímidos. Estes, quando quiserem, assumirão a preponderância.”

Há uma apatia dos que são levados pelos intrigantes e audaciosos e às vezes até uma admiração pelo poder que oprime, uma submissão servil da maioria aos piores. Ao mesmo tempo, há uma inveja dos bons. Melanie Klein, a grande psicanalista que inspirou outro grande psicanalista, Winnicott, dava uma definição perfeita sobre a inveja – como o ódio do que é bom. Por isso, o povo escolheu Barrabás e não Jesus, a democracia grega condenou Sócrates e os próprios hindus mataram Gandhi.

Assim, é preciso trabalhar na base da sociedade, através de uma educação emancipadora e não modeladora para o mercado e através do acesso democrático à possibilidade de análise e terapia. E que se desperte com isso nas pessoas desde cedo a coragem, a autoestima, a consciência e, portanto, a capacidade de tomar a história nas mãos, para construirmos outros cenários para o mundo.

Entretanto, é preciso acrescentar a estas reflexões um dado muito objetivo desta apatia dos bons. Estamos mergulhados num cotidiano que nos massacra, neste sistema do capital, a que somos obrigados servir, para sobreviver. Não nos sobra tempo para pensar, criticar, analisar, agir, nos revoltarmos. Não sobra energia para vivermos. Então, os mais conscientes limitam-se a compartilhar em seus stories do Instagram um meme de “Glauber fica”, porque não há tempo e espaço para mobilização. Pelo menos vimos a presença maciça no Rio de apoiadores do deputado em questão, com a fala guerreira, límpida e forte da querida Erundina. Mas tudo é muito fragmentado e impotente, num mundo em que vivemos mais no virtual do que no real e em que as massas são cooptadas pela mídia corporativa, pelas Fake News, pelas religiões fundamentalistas…

Veja-se a catástrofe do clima, das queimadas, do calor insuportável, da secura asfixiante e da apatia dos povos em relação a essa crise trágica que nos impede de respirar. O quanto de luta e mobilização vemos no mundo? Estamos adormecidos, escravizados ao sistema, hipnotizados pelas big techs

Acordemos! Rápido! Antes que seja tarde!

Dora Incontri

Esse artigo foi publicado originalmente na coluna semana de Dora Incontri no Jornal GGN. Acompanhe as publicações por lá no link abaixo:

(https://jornalggn.com.br/opiniao/a-perseguicao-aos-bons-e-o-caso-glauber-braga-por-dora-incontri/)

Dora Incontri falou sobre esse tema no programa Conexões, do canal da ABPE no youtube. Aproveite e se inscreva no canal!

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