Trabalho e liberdade para ser

Chegar do lado de lá e ver que a vida que foi dura e poderia ter sido melhor não é uma surpresa, de fato, para os espíritos que quando andavam encarnados batalhavam pela sobrevivência. Quando estavam por aqui, os espíritos que tem se comunicado conosco  já sabiam que tudo era injusto e desigual para aqueles que não nasceram donos de propriedade ou com a cor da pele certa, ou no lugar certo, ou com qualquer outra falta de alguma coisa que pode ser usada como subterfúgio para garantir a subalternidade de muitos. 

Embora exista a propaganda máxima de que o capitalismo permite que qualquer um galgue ao topo da pirâmide, com trabalho duro e perseverança, que é um sistema que premia aqueles que aproveitam as oportunidades de trabalhar e investir,  basta andar pelas ruas e mirar um família à porta de algum supermercado, mendigando atenção e trocados e chegar à conclusão de que a janela de oportunidade não depende só da boa vontade das pessoas. 

Em nosso Grupo Mediúnico da Paulista, no fim de maio, tivemos uma discussão sobre como está difícil trabalhar como empregado, ou mesmo ser “empreendedor de si mesmo”. Horas desgastantes de trabalho, metas insanas, remuneração abaixo do necessário para o bem-viver e as pessoas sujeitas a todo tipo de assédio. Por outro lado, os bem-sucedidos, em sua maioria, continuam impassíveis, obtendo seus lucros e mantendo-se alheios ao andar de baixo, articuladores e protetores de seus privilégios. 

O grupo de jovens desencarnados, que mais uma vez estava presente em nossa reunião, interagiu conosco. Como sempre, os jovens ficaram em conversas entre si, até que se manifestaram por meio de seis psicografias curtas, seguindo o modelo de versos rimados e com ritmo, prontos para receber um beat.

Para esses espíritos, o trabalho se mostra necessário, não para ter, mas para viver. Ter seus momentos com seus amigos e amores, lazer e fruição. O ter, como propriedade ou somente como acumulação, não é preconizado por eles. A capacidade individual não é autocentrada no proveito próprio, pelo contrário: destaca-se a necessidade de todos terem e poderem desfrutar das coisas. A atuação individual é voltada para o outro com simpatia e empatia. 

Obviamente, também, para eles que, durante a última encarnação, estavam do lado mais fraco do capitalismo, no subproduto da alienação do trabalho e gerando a mais valia para alguém, há o sentimento e entendimento claro da exploração que relega tanta gente à miséria. Esses espíritos desencarnados jovens, vítimas das desigualdades e da violência, entendem de forma clara que o dono do capital se apropria do resultado do trabalho de outros e goza o que lhe seria de direito e de tudo aquilo que foi subtraído dos  trabalhadores. Uma síntese (livre) de uma das mensagens: Eu quero praia e quero surfe, vou me virar para ter o que comer e viver, mas não quero o bacana surfando com minha prancha. 

Outro ponto explorado  pelos espíritos é que o modelo social que temos aprisiona o indivíduo. O ser precisa produzir para fazer parte do sistema, o que faz com que se adira a qualquer trabalho frente às poucas ofertas. Esse trabalho aprisiona e enterra os sonhos e a criatividade. A questão da igualdade de oportunidades mais uma vez salta aos olhos e aqueles do andar de baixo sentem-se ludibriados em relação à sua liberdade. Seria algo natural que cada um pudesse definir seu rumo, não? Mas isso não é possível na sociabilidade capitalista, como mostram as estatísticas diversas de renda, desemprego e qualidade de vida no mundo globalizado.

No fim das contas, a cada nova interação com esse pessoal, percebemos como nosso mundo, que está matando toda essa gente jovem e que antes de matá-la a trata, e faz parecer que é de forma justificada, como pessoas de segunda classe, está errado.

Por fim, há um tema constante em nossas reuniões. Jovens mães que deixaram seus filhos do lado de cá. Recebemos uma singela carta/poesia. Ela deseja liberdade ao filho e a proteção dos bons anjos a ele com um linda metáfora. 

Coletividade

O que a gente entende por trabalho

É todo mundo

Trabalhando 

Pelo bem de todo mundo

Se um irmão está sofrendo

Todos estamos sofrendo

De que adianta eu ter 2 pães

Se tenho 1 boca

E a boca da criança do vizinho estar vazia

Coletividade

Solidariedade

Reciprocidade

É o caminho

Para uma sociedade mais justa

“falei!”  

(Médium CMM – 31/05/2023)

Comunidade

Um por outro

Outros por um

Todos por um

Comum

Com um 

Com o outro

Qualquer idade

Qualquer cidade 

Toda a cidade

“fui”

(Médium CMM – 31/05/2023)

Trampo

Tá maluco?

Quero onda

Quero praia

Quero ir para onde eu quiser

Abro mão de tudo

Para estender a mão 

Pro meu parceiro

Levanto parede de tijolo

Dou o meu jeito

Pra trazer comida

Nem que tiver que ir buscar lá no inferno

(desculpa aí, foi mal)

Mas não vou ser explorado

Por bacana que pega onda na minha prancha,

Tá ligado?

(Médium CMM – 31/05/2023)

Liberdade

Eu queria dizer

 que não faz sentido

ficar preso

quando se é pequeno

na promessa de ser alguém na vida

quero ser livre hoje

pra poder ser livre

quando for adulto

que adianta ser formatado 

pra ser explorado até morrer????

“As mina”

(Médium CMM – 31/05/2023)

A vida simples 

Dar de comer

Dar de beber

É uma parte do que nóis quer

Do trampo, tá ligado?

Curtir um som 

Com o seu chamego

Dar um rolê

Com seus camaradas

Deitar e descansar

Pensar na vida

Pensar na morte

Faz parte

Traz norte

Nos faz forte

Uau, manoo !!

(Médium CMM – 31/05/2023)

Sem exploração 

Uma só gangue

Uma só rapaziada

Uma trupe

Suas regra

Suas leis

Tamo junto

Tamo gente

Vamu em frente

Pro que 

Der e vier

Temos direitos

Queremos respeito

Queremos escolher

Qual o nosso rumo

“vrau”**

(Médium: CMM – 31/05/2023)

Botão de rosa

Oh, botão de rosa,

Oh, botão de jardim

Em cada ventre um fruto,

Eu tive um que nasceu pra mim

Mas eis que aprendi, nesse tempo curto

Que de um pequeno sussurro

Meu bem nasceu para a liberdade!

Homem digno

Nasceu para o mundo

Que Deus te abençoe,

Meu filho

E os espíritos assoprem 

pétalas e perfumes no seu caminho

Amanda

(Médium L.A. – 31/05/2023)

A imagem que ilustra esse texto é uma colagem feita a partir dos desenhos produzidos por uma médium do nosso grupo que, à distância e sem saber nada sobre o que estamos falando, se conecta mentalmente conosco enquanto acontece a reunião mediúnica. As imagens que ela produz dialogam ou não com o tema da reunião e reforçam a veracidade daquilo que as mensagens nos entregam.

As produções mediúnicas do nosso grupo em parceria com esses jovens estão no Instagram. Nos sigam por lá

https://www.instagram.com/slam.mediunico/

Por aqui, no Blog da ABPE, continuaremos divulgando o andamento desse trabalho e seus desdobramentos. Segundo algumas mensagens que recebemos, esse tipo de trabalho está sendo aberto em outras frentes, então logo teremos mais novidades de outros cantos.

Para ver os textos anteriores desse projeto clique no link abaixo:

https://blogabpe.org/category/slam-mediunico/

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