O poder da fala

microaggressions

Não é à toa que os antigos diziam que a fala é de prata, mas o silêncio é de ouro. Tenho cada vez mais aprendido, nas vivências da vida, que a fala pode provocar muitos males.

Um desabafo pode virar intriga. A intriga se espalha ao vento e semeia raivas e mágoas. As mágoas e as raivas, transmutadas em piores palavras que o primeiro desabafo, podem gerar rupturas. Rupturas podem provocar tragédias.

Uma simples fala obscura e pessimista pode roubar a esperança de alguém, pode manchar o ambiente de nuvens pesadas.

A fala, quando gritada, quando vira faca, punhal, dedo em riste, pode desequilibrar profundamente quem fala, quem escuta, quem responde e quem faz nova tréplica – tornando-se tudo uma tempestade arrasadora.

A fala pode trair e perverter, seduzir e humilhar.

A fala, quando pontilhada de ironia, pode alfinetar a sensibilidade e provocar a baixa autoestima.

A fala pode destilar calúnias e apagar a reputação de alguém. A fala pode induzir à violência individual e coletiva, inclusive arrastando as nações à loucura e à guerra.

Esses poderes colossais tem a fala. Por isso, disse Jesus que não é o que entra pela boca do homem que o faz impuro, mas o que sai. Justamente a fala pode empestear os ambientes, as relações, as vibrações.

Mesmo quando bem intencionada, a fala tem que ser prudente, tem que ser clara, porque a fala pode ser mal ouvida, mal interpretada e repetida de forma distorcida.

Aliás, quão difícil é o outro captar a fala tal como ela é, sem nenhum viés de mal-entendido, sem nenhuma cor diferente daquela que o emissor usou.

Mas a fala também tem altíssimos poderes benéficos. Sócrates filosofou falando, Jesus ensinou falando e Freud descobriu o potencial curativo da fala no setting terapêutico.

A fala, emanada de alguém em estado de equilíbrio, boa vontade e amor, pode esclarecer, confortar, orientar, pacificar…

A fala é veículo de vibrações, ideias, sentimentos. Quando esses estão bem intencionados, límpidos, elevados, repletos de verdadeiro amor, a fala flui cálida, acolhedora, transformadora.

É verdade que todos temos ora falas agressivas, ora falas amorosas. Ainda estamos aprendendo a manejar esse dom divino, que nos aproxima ou afasta uns dos outros, que nos eleva ou faz cair.

Mas para sabermos bem empregar a fala, é preciso que saibamos primeiro usar largamente o silêncio.

Silêncio para meditar, orar, apaziguar o turbilhão de ideias e sentimentos que muitas vezes nos invadem como tsunami e depois eclodem nas falas aflitas, violentas e sem nexo. Há que se estar muito em silêncio íntimo, para se falar com retidão. Há que se estar conectado com seus genuínos e profundos sentimentos e há que se deixar também conduzir pela razão, pela elegância e, por que não dizer, por princípios básicos de educação e cortesia.

Quem fala bem, fala pouco. Quem monopoliza a fala, quem vomita palavras numa velocidade estonteante, numa fala perturbadora, quem se repete o tempo todo – está mostrando seu estado de convulsão mental e emocional.

A boa fala vem calma e sem atropelos, vem simples e sem rodeios, vem certeira e com afeto. E ela vem de um coração em silêncio e de uma alma em paz.

Ela não é melosa em demasia, acenando falsidade. Mas é transparente em suas intenções do bem.

Quanto mais conquistarmos esse dom da boa fala, maior paz teremos nas famílias, nos ambientes de trabalho e estudo, entre as amizades, entre as nações.

E enquanto ainda tivermos ruídos na fala, agressões intencionais ou não, precisamos nos socorrer do remédio do perdão e da compreensão, para que as falas mal faladas e mal entendidas não nos envenenem irremediavelmente.

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3 respostas para O poder da fala

  1. Ana Lucia Quirino disse:

    Excelente! !!!!!!

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  2. Maria Jose disse:

    Muito profundo e verdadeiro esse texto!

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  3. André Luiz Alberto Moore disse:

    Bom para reflexão
    A idade demora a ensinar essas coisas Geralmente quando privados de toda força do corpo saudável sabemos ser bons cam as falas.
    Uma fala agressiva fere até mesmo o próprio corpo e espírito que é criador dessas vibração sonora, que cedo ou tarde terá que reconstruir o a harmonia do conjunto .

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