Cultura, evolução espiritual e vozes transgressoras

No dia 12 de setembro a cantora Anitta ganhou o prêmio de Melhor Clip Latino na premiação da MTV Vídeo Music Awards 2023. Na mesma categoria concorriam Shakira (Colômbia) e Rosalía (Espanha), artistas cujos shows no Brasil vendem todos os ingressos em poucos minutos para um público de classe média que valoriza o trabalho delas. Já Anitta enfrenta muito preconceito deste mesmo público.

O Funk Carioca e suas derivações como funk pop, brega funk, o proibidão, o 150 BPM, ostentação, entre outras, já foi alvo de um projeto de lei no Senado que pretendia criminalizar essa manifestação cultural. Baseada em argumentos de uma moral religiosa que vê na expressão da sexualidade um pecado, e no crime uma escolha unicamente individual (e não um problema coletivo), a proposta de criminalização foi rejeitada por unanimidade. Ainda assim o preconceito social é bem forte.

A marginalização de expressões culturais das classes populares é uma constante na história humana. O vídeo abaixo (feito em homenagem à voz transgressora da Rita Lee) é bem didático ao mostrar a perseguição ao Jazz, ao Choro, ao Samba, ao Rock, até que esses ritmos passassem por uma assimilação (em muitos casos essa assimilação significou um “embranquecimento”), sendo incorporados à cultura dominante.

O espiritismo hegemônico reproduz essa leitura fundamentalista de algumas interpretações cristãs, associando a ideia de falta de evolução espiritual com aquilo que é falado, cantado e dançado pela juventude negra e periférica. São tratados como “assistidos” que ainda vão precisar de “muitas reencarnações para atingir um nível espiritual mais elevado”. Uma mistura lamentável de racismo, orgulho, colonialismo, arrogância e elitismo.

Em nossas reuniões mediúnicas, debatemos esses assuntos, trazemos canções, poesias e outras expressões culturais que denunciam esses preconceitos contra os ritmos da periferia, e também contra as religiões de matriz afro, como umbanda e candomblé que são sistematicamente perseguidas até hoje. São esses debates que abrem a porta para que espíritos de jovens desencarnados se expressem livremente, manifestando sua indignação e sua esperança num futuro igualitário.

Coreografia única

A roça

A poça

A troça

As mãos na terra

As mãos na serra

A comida quente

A mesa posta

A gente que ri

A gente que chora

Suas perdas

Suas mágoas

São por si só

Letra e música

Passo de dança

Coreografia única

Que compõe a humanidade

(Médium : CMM – 13/09/23)

Minhas partes (Ki)

Meu corpo é meu templo

Meu território

Meu meio de transporte

Meu parque de diversões

Meu espírito é

Meu passaporte para o tempo/espaço

Caminhamos juntos

Lado a lado

Não excluo ou renego

Nenhuma de minhas partes

Vocês vão ter que me engolir 

(Médium CMM – 13/09/23)

Escurecer o Brasil

É isso aí rapaziada

Bora minar as bases do sistema

Bora escurecer o Brasil

Que tentaram branquear

Vamos espalhar

Nossa música,

Nossa arte,

Nossa cultura

Nossa alegria

Para geral?

Demorô!

Vamos nessa!

(Médium CMM – 13/09/2023)

A imagem que ilustra esse texto é uma colagem feita a partir dos desenhos e textos produzidos pelos médiuns. As produções mediúnicas do nosso grupo em parceria com esses jovens estão no Instagram. Nos sigam por lá

https://www.instagram.com/slam.mediunico/

Por aqui, no Blog da ABPE, continuaremos divulgando o andamento desse trabalho e seus desdobramentos. Segundo algumas mensagens que recebemos, esse tipo de trabalho está sendo aberto em outras frentes, então logo teremos mais novidades de outros cantos.

Para ver os textos anteriores desse projeto clique no link abaixo:

https://blogabpe.org/category/slam-mediunico/

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