Por que a ABPE criou a Universidade Livre Pampédia? E como vamos continuar?

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É preciso criar uma nova cultura acadêmica, com mais liberdade, com mais abertura para a espiritualidade, com mais diversidade de vozes, mas com não menos rigor e não menos qualidade de produção.

Hoje, as universidades – que aliás no Brasil estão em pleno processo de sucateamento – se regem por um produtivismo quase fordista, que exige artigos, publicações em revistas indexadas, com uma periodicidade que não condiz com a pesquisa profunda, com a reflexão madura, com a originalidade criativa. Essas coisas não se medem em revistas indexadas, sobretudo se estas são regidas por interesses corporativos, por ideologias fechadas, por grupos que dominam o mercado acadêmico.

O ambiente acadêmico exige um discurso muito homogeneizado e uma submissão intelectual, a que pessoas mais livres e mais questionadoras não se adequam. Nas áreas de humanas, há verdadeiros guetos ideológicos e para adentrar os grupos regidos por esse ou aquele autor ou corrente, há que se rezar a cartilha, há que se fazer muitas vezes trabalho escravo para o orientador ou o chefe do departamento, para começar a ganhar um lugar ao sol. Quem está dentro das universidades sabe que são lugares engessados, cheios de lutas de egos, com correntes de pensamentos dominantes.

Mas sim, as universidades foram e são lugares vitais para a pesquisa, para o desenvolvimento do pensamento, para o exercício do rigor científico.

Por outro lado, analisando o movimento espírita brasileiro, temos o seguinte cenário: embora a maioria absoluta dos espíritas brasileiros tenha curso superior e uma parte com pós-graduação, o discurso espírita corrente é dos mais ralos nos dias de hoje. Compactuado com a autoajuda e toda espécie de novidades sem consistência – e aliás também permeado por egos marqueteiros – é justamente o oposto do que seria um pensamento científico e uma construção filosófica sólida como queria Kardec.

O espiritismo no Brasil já tem exercido forte influência na cultura. Basta ver como quase metade dos brasileiros acredita na reencarnação. Mas essa influência tem sido ainda de maneira muito, digamos, Zíbia Gasparetto e Violetas na Janela – fraca como visão de mundo, acrítica e sem raízes filosóficas.

Desde a sua fundação, a Associação Brasileira de Pedagogia Espírita, que não trabalha apenas com a questão pedagógica, mas também com a difusão e a discussão do próprio espiritismo (que entendemos como uma proposta de educação para a humanidade), tem se preocupado com a elaboração de um pensamento espírita mais sólido, crítico e abrangente, resgatando Kardec e contextualizando-o no mundo contemporâneo e também procurando adentrar com esse pensamento na universidade. Apoiamos, incentivamos e publicamos pela Editora Comenius, dissertações e teses feitas em Universidades públicas e particulares com temáticas espíritas e sobretudo as sobre pedagogia espírita; criamos o curso de pós-graduação em Pedagogia Espírita, promovemos congressos nacionais e internacionais com a participação de pesquisadores, autores e educadores espíritas e não-espíritas… e assim fomos construindo um patrimônio de publicações, eventos, uma rede de autores, professores, pesquisadores, ligados a nós de maneira informal, que fazem parte de nossos cursos, congressos e livros.

Em 2014, quando estávamos em nosso Espaço Pampédia, ainda na Zona Norte de São Paulo (agora estamos em Bragança Paulista), trouxemos para nos visitar Celso da Costa Frauches, um consultor de Brasília, amigo nosso de muitos anos, especializado na legislação para aprovação de faculdades e universidades pelo MEC. Mostramos nossos projetos, nossas publicações, nossa rede de professores, nossos congressos… e dissemos que gostaríamos de criar um curso formal, reconhecido pelo MEC de uma Faculdade de Pedagogia. Ele perguntou se dispúnhamos de alguns milhões, para atender a todas as taxas, a todos os requisitos de estrutura física e organizacional, contratação, impostos etc. Obviamente, dissemos que não.

Mas ele nos retrucou que tínhamos coisas que muitas universidades particulares não tinham: professores mestres e doutores, produção de livros, congressos de projeção internacional… então, nos aconselhou a fundação de uma universidade livre.

Fizemos uma pesquisa e descobrimos exemplos internacionais de propostas assim e fomos em frente.

Na época, éramos financiados pela Capemisa Social, que nos repassava uma verba mensal (não era mera doação, prestávamos serviços e produzíamos livros para os Lares Fabiano de Cristo) e com uma equipe de 12 pessoas, discutimos, planejamos e fundamos a Universidade Livre Pampédia, após o II Congresso de Educação, Espiritualidade e Transformação Social, em 2014.

Acontece que no final de 2015, a Capemisa cortou todo o financiamento. Ao mesmo tempo, o Brasil mergulhou na crise que todos conhecemos. Desde então, estamos atravessando um período tempestuoso com muito sacrifício, com muitas dívidas, mantendo as portas abertas da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita, da Editora Comenius e da Universidade Livre Pampédia, por teimosia e idealismo. Mesmo assim, estamos lançando sempre novos cursos, mantemos a pós, com poucos alunos atualmente, o projeto da Terapia Pedagógica (vai se iniciar um novo grupo agora), alimentamos os blogs, gravamos o programa de rádio Educação para Todos, lançamos pequenas edições e reduzidas reedições…

Mas precisamos do apoio de todos para continuar.

Entendemos a necessidade de mantermos as portas abertas pelos seguintes motivos (e muitos nos aconselham a fechar tudo!)

  • Para manter um local de resistência de pensamento livre e plural, na sociedade brasileira, atualmente cheia de discursos de ódio, intolerância, fundamentalismo e retrocesso;
  • Para incluirmos a espiritualidade de forma inter-religiosa, nos debates, no ensino e na pesquisa;
  • Para constituirmos um discurso espírita atualizado, progressista e em diálogo com as correntes de pensamento contemporâneas;
  • Para trabalharmos uma educação crítica, transformadora e que milita por um mundo melhor, sem fins comerciais e sem amarras ideológicas.

Todo o nosso projeto (incluindo a Editora Comenius) é sem fins lucrativos.

Como você pode nos ajudar?

1) Inscrevendo-se em nossos cursos on-line!

Link – https://pampedia.eadplataforma.com/cursos/

2) Associando-se à Associação Brasileira de Pedagogia Espírita, que é mantenedora da Universidade Livre Pampédia.

Link – https://www.pedagogiaespirita.org.br/blank-3

3) Comprando os livros da Editora Comenius, que faz parte do grupo.

Link – http://editoracomenius.com.br/index.php

4) Tornando-se nosso patrocinador.

Mais informações nesse link – https://www.pedagogiaespirita.org.br/patroc

5) Fazendo doações!

Link – https://www.pedagogiaespirita.org.br/blank-4

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5 respostas para Por que a ABPE criou a Universidade Livre Pampédia? E como vamos continuar?

  1. Leonel Varanda disse:

    Dra. Dora Incontri, excelente o artigo e as argumentações. Não desista de suas ideias, afinal de contas o professor e educador Emmanuel, um dos responsáveis pela difusão da cultura espirita no Brasil, esta reencarnado e precisará de suas orientações, já que ele deverá trabalhar como educador. Além disso, a tua tarefa reveste-se de importância capital para a disseminação da pedagogia espírita, um dos pilares de transformação social e política.

    Siga, Dra. Dora e confie na assistência espiritual do educador Comenius e de Pestalozi. Sou, apenas um admirador de seu trabalho, mas sinto a finalidade educativa da instituição criada por tuas experiências e intuições.

    Deus a abençoe.

    Leonel Varanda
    34.3421-0212
    Frutal MG

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  2. Mara Suely da Silva disse:

    Gostaria muito de fazer o Curso Pedagogia Espírita.
    Mas tenho dificuldade de locomoção para o curso presencial.
    Sugiro que pensem no curso na plataforma 100% EAD , além de estarem ajudando muito os discentes, acredito que teriam muitos alunos e fortaleceriam a Universidade, que acredito muito e desejo Vida Longa a essa forma de ensino plural.
    Mas ficaria muito feliz de poder faze-lo a
    distância.

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  3. armando alves de carvalho disse:

    Bom dia. Por tudo que já foi dito por Leonel e Mara e por me encontrar em condições físicas limitadas como Mara, torço para que considerem e possam implantar a sugestão por ela feita e digo que serei mais um participando efetivamente. Continuo acompanhando. Parabéns.

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    • Maria das Graças Soares disse:

      Maria das Gracas Soares em 13/8/18 às 15:09
      Como ex_ aluna do Curso de Pos em Pedagogia Espirita não poderia deixar passar
      A oportunidade de dizer da importancia deste curso para o meu crescimeual e a visão de uma educacao que realmente transformará o mundo. Peco desculpas pela negligência de não saber como anda minha situação como associafa da ABPE e gostaria que me situasse para continuar colaborando.
      fará a mudan cá

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